A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar(Eduardo Galeano)
e eu acidentalmente parei aqui, nesse blog velho, de palavras velhas, de uma velha eu, lendo sobre meus velhos passeios entre a vida e a fé. Eu li aqui que
meus passos são firmes porque um dia Ele resolveu que todos Seus filhos viveriam a sensação de ultrapassar a linha de chegada
e lembrei que
not all those who wander are lost(J.R.R.Tolkien)
De repente, pensei em minha própria caminhada. Desde minhas últimas palavras aqui, andei por muito chão. Teve chão gostosinho, macio, verdinho e florido, teve chão de pedra, duro e frio, teve momentos em que nem mesmo tive chão. Teve chão sujo de mim, sujo por mim, limpo depois, quebrado, consertado, cicatrizado, renovado. Teve chão de tudo que é tipo na minha caminhada. Aliás, também teve corrida, arrastar de pés, rastejar de barriga, desistência, recomeço, trote leve, trote pesado. Teve até nado (ou nada).
Eu não sou mais a mesma. Eu pisei na bola, enchi a bola, furei a bola, comprei outra bola. Eu saí de casa, fiquei rebelde, fiquei sem pão, fiquei sem trabalho, fiquei sem faculdade, mas também fiquei com faculdade, fiquei com comida gostosa tipo mc donald, fiquei com estágio, fiquei numa boa. Só não posso dizer que fiquei perdida.
Se uma esperança me manteve sã, e por sã quero dizer viva, foi a esperança de não estar perdida. Nem todo que vagueia está perdido, disse o Tolkien. Eu ouço (leio) tudo que o Tolkien fala (escreveu), por que não ouviria (leria) isso? Eu não estava, não poderia estar, não queria estar perdida. Eu preferia pensar que estava me construindo. Desconstruída, recolocando os alicerces. Duvidando do que achava certo, acreditando no que achei errado. Pensando no que julgava sentimento, sentindo. Sentindo. Perdida, não. À procura. E no meio dessa procura eu me encontrei. Olha só o absurdo! Pouca gente tem a chance de se encontrar, assim, tão rápido. Afinal, a procura não durou uma vida. Durou só algum tempo. E aí entra a segunda citação do dia, eu percebi que um passo que já foi firme, quando tropeça e cai, ainda lembra como caminhar, ainda sabe como recomeçar. Desde então, a vida ficou mais leve, mais fácil, mas plana.
Eu ainda não sou uma ótima andarilha. Ainda erro mais do que acerto, ainda choro, ainda caio, mas sorrio bastante e levanto com um pouco mais de frequência. E agora, entra a terceira citação do dia (que ironicamente foi a primeira que li, a que começou toda essa explosão de pensamento e sentimento aqui). Por que eu caminho? Aliás, por quem eu caminho? Eu, pecadora, perdedora, erradora (eu sei, eu inventei essa palavra, mas esse bloguinho velho tem que ter uma palavra nova, né?), no ápice da minha crise, nunca deixei de caminhar. E ainda tô aqui, gastando o tênis. Eu nunca perdi a esperança. Ao contrário do que eu disse pra minha amiga, que postou a frase, um dia desses (amiga, quem é você pra falar sobre sair desse mundo ideal?), eu também não sou alguém. Eu vivo atrás de utopias, de mundos ideais. Talvez tenha sido isso que tenha me feito continuar em frente. Mas se é utópico, é inalcançável. Só que através dessa busca pelo que não posso alcançar, uma coisa me alcançou: a graça. E eu sou grata porque hoje o que julguei utópico, não mais o é: a completude.
Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência desse mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para um outro mundo.C.S.Lewis
mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
Se estou completa? É claro que não. Ainda não. Mas, como esperançosa que sou, já me sinto como se fosse. Logo serei...